Muitos indivíduos já nascem com o direcionamento daquilo que almejam e querem ser. Outros vão descobrindo com o tempo. Outros mais mudam suas rotas ao longo da vida.
A questão é: quem é você? o que você quer? onde quer chegar?
Está tudo bem se você não tiver essas respostas de imediato. Isso é particular de cada um.
O problema é quando somos cobrados para ter essas respostas já em tenra idade.
Quem nunca foi questionado quando criança sobre o que queria ser quando crescer?
Qual criança respondeu baseado naquilo o que estava próximo e de influência, e ao crescer, não mudou de ideia?
Mudar de ideia não é um problema.
Somos pessoas, mudamos com o tempo. É uma ordem natural das coisas. É a lei da vida.
Mas e quando você é cobrado ou julgado pela mudança? Ou mais ainda por não saber de fato responder essas questões mesmo depois de adulto.
Por muitos anos vivi esse dilema, e mesmo quando criança, eu mudei de ideia varias vezes do que gostaria de ser quando crescer, a única palavra que vinha em minha mente era Arte, mas delimitar qual ramo da arte, isso eu não sabia como fazer ou descrever.
E mesmo tendo essa resposta, ainda assim, fui julgada e criticada por almejar algo que não era tão socialmente aceito como profissão.
"Isso lá é vida?", "Isso dá dinheiro?", "Isso não dá dinheiro!", "Isso não é vida", "Isso não é profissão nem dá estabilidade".
Estes foram apenas alguns exemplos do que ouvi em mais de três décadas de vida.
Na adolescência me vi obrigada a abrir mão desse desejo e aceitei viver de acordo com a opinião alheia, e seguir o caminho que achavam que era o melhor para mim.
Em um período de dez anos, tive três fortes crises de depressão, e cada uma das crises me ensinou algo diferente, mas foi só na terceira que eu despertei.
Por muitos anos vivi como se estivesse a mercê da vida.
Conforme os anos passavam, e eu não era mais tão jovem assim, comecei a sentir o peso de não ter essa delimitação, desse foco, e principalmente, senti falta de ter a minha Identidade.
Por três décadas senti a dor de não poder ser eu mesma, e muito menos saber o que fazer de mim, afinal, tudo o que eu me propus, "não deu certo".
Vivi uma jornada pela metade. Começava coisas e não terminava, não me identificava. Eu não tinha gana.
Ao ver meus colegas de escola vivendo suas vidas, casando, constituindo família, trabalhando, e tendo uma profissão dentro daquela faixa etária entre os vinte e trinta anos, só me fazia sentir cada vez pior sobre mim mesma.
Era inevitável me comparar.
E ainda fui cobrada e julgada mais vezes.
Era um ciclo que não terminava.
Até que na terceira crise depressiva, a mais profunda que tive até então, me fez mergulhar no meu próprio âmago, me fez enfrentar minha sombra, minhas lembranças, meus traumas. Me fez encarar a mim mesma.
Foi só então que fui capaz de entender o que me faltava, e ser capaz de preencher esse buraco vazio que vivia dentro de mim, que oras me atormentava, oras me derrubava, oras me destruiu de alguma forma.
Com os cacos de mim mesma, fui aprendendo a montar meu próprio quebra-cabeças, comecei a dar forma a mim mesma, a sedimentar minha própria base, e aí sim, me assumir de vez.
Foi só quando acolhi a minha essência, abracei a minha fragilizada criança, e conversei com a minha adolescente interna, que fui capaz de sentir a minha própria força.
Passei a ser mais Eu.
Não foi um processo fácil, a maior parte foi extremamente doloroso, arrastado, silencioso, e libertador.
E foi justamente na famosa crise dos 30.
Foram muitos anos me sentindo envergonhada por não ter me formado, apesar de ter começado quatro faculdades e não concluir nenhuma.
Foram muitos anos me sentindo inferiorizada por não ter atingido nenhuma daquelas metas sociais a serem atingidas até os 30.
Não casei, não tinha filhos humanos para criar (sou mãe de pet), sempre tive uma saúde frágil, arranjei meu primeiro emprego fichado aos 30 anos, ou seja, eu me sentia como se eu não fosse nada e nem ninguém.
Apesar da bênção de ter um emprego como recepcionista, e que não é nenhum demérito, ainda assim eu sentia a frustração em não ter uma profissão. Poder encher a boca com orgulho sobre a minha própria definição como pessoa social.
Após meu despertar, fui capaz de definir o que aquela menina de 5/6 anos não era capaz de expressar quando sonhava em criar personagens e contar historias, ser artista.
Na época, eu pensava que só poderia viver de minha arte se fosse desenhista ou atriz, pois na época não existia a palavra Designer e Animação 3D em meu meio de vida.
Em minha fraca auto-avaliação e auto-percepção, não era capaz de me ver como Autora, por mais que escrevesse por mais de vinte anos.
Me ver como Escritora, isso estava fora de cogitação!
Foram necessárias muitas crises existenciais para finalmente poder assumir minha essência e minha alma Artística!
Essa sou eu.
Afinal, quem é você?
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